Mulheres têm representação limitada em ciências exatas e tecnológicas e enfrentam desigualdades de financiamento na pós-graduação.

Recentemente, especialistas reunidos em uma audiência pública conjunta das comissões de Defesa dos Direitos da Mulher e de Ciência, Tecnologia e Inovação da Câmara dos Deputados discutiram a disparidade de gênero presente na pós-graduação no Brasil. Embora as mulheres já sejam maioria entre os titulados na pós-graduação, estudantes de graduação e bolsistas de mestrado e doutorado, ainda existem desigualdades em relação às áreas de conhecimento e ao financiamento, bem como dificuldades para que as mulheres alcancem posições de destaque em suas carreiras.

Luana Bonone, coordenadora-geral de Popularização da Ciência e Tecnologia do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTCI), apontou que a disparidade de gênero por áreas de conhecimento reflete a divisão tradicional do trabalho. Nas áreas das ciências exatas e da terra, apenas 35% dos bolsistas são mulheres, enquanto em engenharias e computação esse número é de apenas 33,6%. Em contraste, em áreas como linguística, letras, artes e saúde, 66% dos bolsistas são mulheres, o que está mais próximo da participação feminina na graduação.

Para combater essas desigualdades, Bonone defendeu a implementação de políticas públicas interministeriais e do Legislativo, com a participação do Judiciário e da sociedade civil. O governo já possui iniciativas nesse sentido, como o programa Futuras Cientistas, que estimula alunas e professoras da rede pública a se envolverem com Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática. Além disso, existem programas de apoio a startups lideradas por mulheres, como o Programa Mulheres Inovadoras, e bolsas voltadas para pesquisadoras coordenadoras de projetos e estudantes participantes do programa Meninas e Mulheres na Ciência.

A presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Mercedes Bustamante, enfatizou que, apesar de as mulheres serem maioria entre os professores universitários nas áreas de saúde e linguagem, letras e artes, muitos estados do Norte e do Nordeste têm índices ainda mais baixos de mulheres professoras em comparação com a média nacional. Ela também destacou que, embora mais mulheres do que homens sejam tituladas doutoras e tenham empregos formais, elas recebem remuneração mensal menor. A presidente da Capes questionou por que tantas mulheres altamente qualificadas ainda têm dificuldade para serem absorvidas pelas universidades e receberem uma remuneração justa.

Outro ponto abordado na audiência foi o financiamento menor concedido às mulheres nas pesquisas científicas. De acordo com Dalila Oliveira, diretora de Cooperação Institucional, Internacional e Inovação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), embora as mulheres sejam maioria nas bolsas de pesquisa, os valores das bolsas podem ser até 60% menores. Ela também ressaltou que áreas como Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática recebem mais recursos do que as ciências humanas e sociais, e que é necessário promover a igualdade nesse aspecto.

Diante desse cenário, Ana Priscila Alves, vice-presidente da Associação Nacional dos Pós-Graduandos (ANPG), pediu que a licença maternidade seja estendida para todas as pós-graduandas e enfatizou a necessidade de derrubar o decreto que proíbe a criação de creches nas universidades. Alves também destacou a importância de pesquisar os motivos que levam à saúde mental precária das mulheres na pós-graduação, incluindo o assédio sexual.

Em resumo, a audiência pública trouxe à tona a necessidade de garantir igualdade de gênero nas carreiras científicas e tecnológicas. As desigualdades persistem tanto em relação às áreas de conhecimento quanto ao financiamento, além das dificuldades que as mulheres enfrentam para alcançar posições de liderança. A implementação de políticas públicas interministeriais, bem como mudanças culturais e estruturais, são essenciais para garantir uma sociedade mais justa e igualitária.

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