Tragédia dos temporais no Rio Grande do Sul deixa clima de consternação e famílias em busca da liberação dos corpos

A sede do Departamento Médico-Legal de Porto Alegre foi tomada por um clima de silêncio e consternação na tarde desta quinta-feira (7). O local recebeu os corpos de 22 das 39 vítimas dos temporais que atingiram o Rio Grande do Sul nos últimos dias. A movimentação intensa de veículos do Instituto Geral de Perícias (IGP) e de funerárias era constante, enquanto os familiares das vítimas entravam e saíam do prédio em busca da liberação dos corpos.

Além do resultado da necropsia, a liberação para os velórios depende de uma normalização mínima nas cidades afetadas. Muitas dessas cidades tiveram mais de 80% da área urbana submersa devido às enxurradas causadas pelos temporais. Os familiares, em contato por telefone com parentes que ficaram no interior, explicavam as orientações para os velórios. A maioria se recusou a falar com a imprensa, relatando apenas o abalo emocional e a incredulidade com o que aconteceu. Alguns descreveram a situação como indescritível, mostrando-se visivelmente abalados.

A maioria dos parentes que estavam presentes no Departamento Médico-Legal eram de vítimas encontradas nas cidades de Muçum e Roca Sales após a devastação causada pela cheia do rio Taquari. Eles viajaram para a capital gaúcha como parte de uma força-tarefa de identificação de vítimas montada emergencialmente pelo IGP. Segundo a Defesa Civil do estado, essas duas cidades registraram 23 das 39 mortes confirmadas decorrentes das fortes chuvas.

A diretora-geral do IGP, Marguet Mittmann, explicou que a centralização dos casos na capital foi motivada pela estrutura interdisciplinar oferecida, que inclui uma equipe maior de peritos, psiquiatras e outros profissionais com treinamento específico para casos de desastres. Além disso, foi disponibilizada uma sala de cuidado psicossocial para orientar as famílias sobre os procedimentos para a liberação dos corpos e oferecer apoio a quem fez a viagem entre Porto Alegre e as duas pequenas cidades.

A entrada no município de Muçum está limitada a moradores, autoridades e jornalistas. O governador Eduardo Leite (PSDB) visitou a cidade nesta quinta-feira (7) para articular ações de resposta ao desastre com o prefeito Mateus Trojan (MDB). A comunicação com a região está prejudicada devido à queda de antenas de sinal de internet, o que aumentou a tensão das famílias isoladas. Para solucionar esse problema, o governo federal disponibilizou 13 antenas digitais que foram levadas pela Força Aérea Brasileira para o Rio Grande do Sul.

O total de afetados pelos temporais no estado é estimado em 62,7 mil, com 2.384 pessoas desabrigadas e 3.953 desalojadas. Houve oito feridos e nove pessoas ainda estão desaparecidas. Somando a morte ocorrida em Santa Catarina, o número de óbitos da tragédia no Sul do país chega a 40. Esses eventos climáticos extremos foram intensificados pela passagem de um ciclone extratropical sobre o Atlântico. A prioridade no momento é reduzir os entraves burocráticos para os familiares das vítimas, uma vez que muitos perderam documentos importantes devido às enchentes.

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