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Chile promove programação intensa de eventos para marcar os 50 anos do golpe de Estado e relembrar a luta pela democracia

No início dos anos 80, um mistério rodeava a tumba anônima existente no Cemitério Santa Inés, em Viña del Mar, no Chile. Os pais de um menino nascido em Machalí, uma cidade localizada a cerca de 100 quilômetros da capital, Santiago, chamaram a atenção de seus filhos para o túmulo sem identificação e revelaram que ali estava enterrado um ex-presidente escolhido pelo povo, Salvador Allende. O atual embaixador chileno no Brasil, Sebastian Depolo Cabrera, relembra a falta de reconhecimento que Allende recebia mesmo depois de sua morte, ocorrida em 1973, quando o presidente foi deposto por um golpe militar.

Allende foi eleito democraticamente em 1970 e tinha como objetivo criar um caminho para o socialismo através de meios institucionais. No entanto, sua gestão foi interrompida pelo golpe civil-militar liderado pelo general Augusto Pinochet. O golpe foi apoiado por parte da sociedade chilena e por governos estrangeiros, incluindo o dos Estados Unidos e do Brasil sob o regime militar. Pinochet, então, se tornou o líder do país, governando com mão de ferro e estabelecendo uma das ditaduras mais violentas da América Latina. Milhares de pessoas sofreram abusos nas mãos do regime, com inúmeras desaparecidas.

Somente em 1990, quando a ditadura chegou ao fim, os restos mortais de Allende foram levados para Santiago. No entanto, sua imagem como um líder político democrático ainda enfrentava resistência. Por isso, a celebração do 50º aniversário do golpe de Estado chileno se tornou uma oportunidade para reforçar a memória de Allende como um grande líder que acreditava na promoção de transformações sociais através de meios democráticos.

O governo chileno preparou uma vasta programação para a ocasião, incluindo exposições, marchas, debates e exibição de filmes. Além disso, o presidente Gabriel Boric anunciou a transformação do Plano Nacional de Busca da Verdade e Justiça em uma política pública permanente, comprometendo-se a buscar os desaparecidos e oferecer reparação às famílias das vítimas.

Por iniciativa do governo de Boric, quatro ex-presidentes chilenos assinaram um documento comprometendo-se a defender a democracia e os direitos humanos diante de ameaças autoritárias. A memória histórica também é destacada como crucial para a construção de um futuro democrático.

A programação das comemorações conta com a presença de líderes políticos de vários países, incluindo o Brasil. O ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, o secretário executivo do Ministério da Cultura, Márcio Tavares, e o assessor especial de Defesa da Democracia, Memória e Verdade, Nilmário Miranda, representarão o país. Além disso, chefes de Estado de outros países também foram convidados a assinar a Declaração de Santiago.

O embaixador Depolo destaca a importância de entender os eventos ocorridos no Chile há 50 anos. Ele enfatiza a valorização da democracia, o reconhecimento da influência externa nos acontecimentos da época e a necessidade de grandes acordos democráticos para garantir o bem-estar das pessoas.

Para Depolo, a celebração do aniversário do golpe de Estado se torna um momento de fechamento de ciclo, onde ele pode contar às suas filhas sobre o que aconteceu e quem era Allende. A memória histórica serve como um aprendizado para que eventos trágicos como esse nunca voltem a ocorrer.

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