Pandemia da Covid-19 causa grandes impactos na primeira infância nas favelas da Maré, revela estudo da ONG Redes da Maré.

A pandemia da Covid-19 teve efeitos significativos sobre as crianças da primeira infância no complexo das 16 favelas da Maré, localizado na zona norte do Rio de Janeiro. Essa faixa etária, que abrange crianças de 0 a 6 anos, foi afetada em diversos aspectos, como saúde, alimentação, educação e segurança. Essas são as conclusões do Diagnóstico Primeira Infância nas Favelas da Maré, divulgado pela ONG Redes da Maré.

De acordo com os dados levantados, as crianças de 0 a 6 anos correspondem a 12,4% da população da Maré, o que representa cerca de 15 mil crianças. Essa fase é considerada crucial para o desenvolvimento infantil. Durante a pandemia, a ONG entrevistou famílias e profissionais de saúde, assistentes sociais e professores, a fim de traçar um panorama da realidade de 2.796 crianças nesse grupo etário.

Entre os principais problemas enfrentados pelas famílias, destaca-se a questão da alimentação. Cerca de 54,1% das famílias pesquisadas enfrentaram dificuldades nesse aspecto, sendo que em 11,8% dos domicílios algum familiar deixou de comer para garantir a alimentação das crianças.

Além disso, o relatório aponta a violência como um problema grave. Durante a pandemia, 62% das operações policiais ocorreram próximo a escolas e creches, afetando de forma direta as crianças. Mais de um terço dos cuidadores entrevistados relataram que as crianças presenciaram algum tipo de violência, o que resultou na perda de aulas, redução do desempenho escolar e restrição de circulação.

A falta de acesso à educação também é uma questão preocupante na Maré. O território conta com apenas seis creches municipais e 15 espaços de desenvolvimento infantil (EDIs), número insuficiente para atender à demanda. Isso resulta em consequências para a organização e dinâmica das famílias, prejudicando principalmente as mulheres negras, que são as principais responsáveis pelo cuidado das crianças.

Outro problema destacado é a falta de infraestrutura e serviços básicos na Maré, como saneamento básico, lazer, cultura e transporte público. A ausência de equipamentos públicos adequados para o atendimento de crianças com deficiência também é um desafio.

Diante desse cenário, o relatório faz recomendações para aprimorar as políticas públicas na região. Entre as medidas sugeridas estão a ampliação do acesso à saúde, educação e assistência social, a desnaturalização dos processos de violência, a valorização das diferentes formas de cuidado nas famílias e a promoção do desenvolvimento integral das crianças.

A Redes da Maré, que atendeu mais de 18 mil famílias durante a pandemia, destaca a importância de continuar discutindo essas questões e buscar soluções para garantir um futuro justo e igualitário para as crianças da Maré. A ONG acredita que o diagnóstico contribui para dar visibilidade aos problemas enfrentados e ressalta a necessidade de investimento em políticas públicas efetivas e específicas para o território.

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