De acordo com os dados levantados, as crianças de 0 a 6 anos correspondem a 12,4% da população da Maré, o que representa cerca de 15 mil crianças. Essa fase é considerada crucial para o desenvolvimento infantil. Durante a pandemia, a ONG entrevistou famílias e profissionais de saúde, assistentes sociais e professores, a fim de traçar um panorama da realidade de 2.796 crianças nesse grupo etário.
Entre os principais problemas enfrentados pelas famílias, destaca-se a questão da alimentação. Cerca de 54,1% das famílias pesquisadas enfrentaram dificuldades nesse aspecto, sendo que em 11,8% dos domicílios algum familiar deixou de comer para garantir a alimentação das crianças.
Além disso, o relatório aponta a violência como um problema grave. Durante a pandemia, 62% das operações policiais ocorreram próximo a escolas e creches, afetando de forma direta as crianças. Mais de um terço dos cuidadores entrevistados relataram que as crianças presenciaram algum tipo de violência, o que resultou na perda de aulas, redução do desempenho escolar e restrição de circulação.
A falta de acesso à educação também é uma questão preocupante na Maré. O território conta com apenas seis creches municipais e 15 espaços de desenvolvimento infantil (EDIs), número insuficiente para atender à demanda. Isso resulta em consequências para a organização e dinâmica das famílias, prejudicando principalmente as mulheres negras, que são as principais responsáveis pelo cuidado das crianças.
Outro problema destacado é a falta de infraestrutura e serviços básicos na Maré, como saneamento básico, lazer, cultura e transporte público. A ausência de equipamentos públicos adequados para o atendimento de crianças com deficiência também é um desafio.
Diante desse cenário, o relatório faz recomendações para aprimorar as políticas públicas na região. Entre as medidas sugeridas estão a ampliação do acesso à saúde, educação e assistência social, a desnaturalização dos processos de violência, a valorização das diferentes formas de cuidado nas famílias e a promoção do desenvolvimento integral das crianças.
A Redes da Maré, que atendeu mais de 18 mil famílias durante a pandemia, destaca a importância de continuar discutindo essas questões e buscar soluções para garantir um futuro justo e igualitário para as crianças da Maré. A ONG acredita que o diagnóstico contribui para dar visibilidade aos problemas enfrentados e ressalta a necessidade de investimento em políticas públicas efetivas e específicas para o território.