Ícone do site Pauta Capital

Demora na conclusão de processos judiciais do rompimento de barragem da Vale em Brumadinho é criticada em audiência na CDH.

No dia 23 de janeiro de 2023, ocorreu uma audiência pública na Comissão de Direitos Humanos (CDH) para discutir a demora na conclusão dos processos judiciais relacionados ao rompimento da barragem de rejeitos da mineradora Vale, em Brumadinho (MG), no dia 25 de janeiro de 2019. Além disso, também foi abordada a violação de direitos humanos que ocorreu após um dos maiores desastres ambientais do país. O rompimento ocasionou a morte de 272 pessoas e resultou na contaminação do Rio Paraopeba com rejeitos de minério.

A audiência foi requerida pelo presidente da CDH, Paulo Paim (PT-RS), e pela senadora Damares Alves (Republicanos-DF), que destacaram a urgência de uma solução para as famílias das vítimas que ainda aguardam por reparação. Segundo Paim, esse foi o maior acidente de trabalho do país e o segundo maior desastre industrial do século. Ele ressaltou a necessidade de lutar pela justiça para que os responsáveis sejam punidos.

Durante a audiência, Andressa Rodrigues, presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos do Rompimento da Barragem Mina Córrego Feijão Brumadinho (Avabrum), criticou a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que transferiu a ação penal da Justiça estadual para a Justiça Federal. Segundo ela, essa mudança resultou na retomada de fases que já haviam sido cumpridas no processo estadual, prolongando ainda mais a resolução do caso.

Andressa ainda relatou a demora nas investigações na Alemanha, onde a empresa alemã Tüv Süd, responsável por atestar a segurança da barragem, também é alvo de processos. Já se passaram quatro anos desde a apresentação da queixa criminal formal na Alemanha, e a Procuradoria de Munique ainda não concluiu as investigações e definiu se abrirá uma ação penal.

Em 2021, a Polícia Federal indiciou 19 pessoas ligadas à Vale e à Tüv Süd por crimes ambientais e homicídio doloso qualificado. Além disso, o Senado também conduziu uma investigação por meio da CPI de Brumadinho em 2019, que resultou no indiciamento de 14 pessoas por homicídio, lesão corporal e crimes ambientais.

Maximiliano Garcez, advogado da Avabrum, enfatizou que esse é o primeiro processo de ação coletiva civil de brasileiros no exterior. Ele denunciou a falta de transparência da Justiça alemã e acusou a Tüv Süd de fraudar o certificado de viabilidade da mina. Garcez afirmou que os executivos alemães tinham conhecimento do crime e instruíram os funcionários brasileiros a cometê-lo.

Rüdiger Helm, outro advogado da Avabrum, relatou que a Tüv Süd está gastando milhões de euros para combater as reivindicações das vítimas. Ele também mencionou a decisão favorável obtida pelo Sindicato Metabase Brumadinho na Justiça do Trabalho, que obriga a Vale a indenizar em R$ 1 milhão por vítima os herdeiros representados pelo sindicato.

Diversos representantes de entidades, como o Ministério Público do Trabalho (MPT) e a Defensoria Pública da União (DPU), também estiveram presentes na audiência. O procurador do MPT, Geraldo Emediato de Souza, falou sobre o acordo assinado com a Vale em 2019, que previa o pagamento de R$ 400 milhões pela empresa a título de danos morais à coletividade. Ele ressaltou que a indenização ainda é insuficiente para reparar o mal causado.

A defensora pública da Defensoria Pública de Minas Gerais (DPMG), Carolina Morishita, descreveu as consequências que a região de Brumadinho e as comunidades ao redor da mina ainda enfrentam, como a impermeabilização do solo pelos rejeitos. Ela destacou a dificuldade enfrentada pelas comunidades para serem reconhecidas como sujeitas ao direito de reparação.

No decorrer da audiência, foi apontada a fragilidade do Brasil em relação à falta de protocolos e bases legais para responder de maneira imediata e efetiva a acidentes e desastres, o que evidencia a necessidade de construção de propostas de protocolos para aprimorar o enfrentamento desses casos pelo poder público.

A audiência pública permitiu a exposição das irregularidades e negligências envolvendo o rompimento da barragem em Brumadinho, além de destacar a urgência na responsabilização das empresas envolvidas e na reparação dos danos causados às vítimas e ao meio ambiente.

Sair da versão mobile