Há 50 anos, a ditadura militar no Brasil assassinava estudante de Direito que lutava contra o regime: o caso de Zé Carlos

No último sábado, dia 28 de outubro, completaram-se 50 anos do assassinato de José Carlos da Mata Machado, mais conhecido como Zé Carlos. O jovem estudante de Direito foi vítima da ditadura militar que assolou o Brasil durante longos anos. Seu corpo, torturado e brutalmente assassinado em Recife, foi enviado à família, em Minas Gerais, após denúncias e repercussão do caso. A morte de Zé Carlos representa apenas uma das inúmeras tragédias vividas durante o período sombrio da ditadura no país.

Em entrevista à Agência Brasil, seu irmão Bernardo Mata Machado, atualmente com 70 anos, relembrou com tristeza e orgulho o momento em que o corpo de Zé Carlos foi enterrado. Ele descreveu como um batalhão de fotógrafos registrou o momento, enquanto pouquíssimas pessoas tiveram coragem de comparecer ao cemitério, devido ao medo que rondava o país na época. Bernardo destacou a coragem e os princípios de seu irmão, que lutava incansavelmente pela liberdade e igualdade.

Zé Carlos era militante da Ação Popular Marxista-Leninista (APML) e já havia sido preso anteriormente durante o Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), em 1968. O jovem ocupou cargos de destaque, como a vice-presidência da UNE e a presidência do Centro Acadêmico do curso de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Sua dedicação à luta contra o regime fez com que se tornasse um alvo dos militares.

Após ser torturado e assassinado no Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (Doi-Codi) em Recife, o corpo de Zé Carlos foi inicialmente enterrado lá. No entanto, devido às intensas tentativas da família e da advogada Mércia Albuquerque Ferreira, que registrou em diário os detalhes da exumação, o corpo foi levado a Belo Horizonte para ser enterrado em sua cidade natal.

A luta pela entrega do corpo de Zé Carlos foi árdua. Seu pai, Edgar Godoy da Mata Machado, um deputado federal cassado pela ditadura e senador na década de 1990, denunciou internacionalmente a morte do filho. Os jornais Washington Post e New York Times, além do senador Edward Kennedy, foram alguns dos veículos e políticos que denunciaram as torturas no Brasil. Somente após essa pressão e a repercussão internacional, os militares permitiram que a família tivesse acesso ao corpo do jovem.

No entanto, a descrição do estado do corpo de Zé Carlos, feita por Mércia Albuquerque Ferreira no diário, revela a crueldade e a brutalidade da ditadura contra seus opositores. Segundo Bernardo Mata Machado, o corpo estava escarificado, com todos os dentes arrancados, em uma clara tentativa de esconder a identidade do jovem.

Mais do que um caso isolado, a morte de Zé Carlos é um triste exemplo das vítimas da ditadura militar no Brasil. O regime, que durou longos anos, causou inúmeras atrocidades e violações aos direitos humanos. Mesmo após o fim do período ditatorial, as ameaças à democracia e as tentativas de golpes ainda persistem, conforme afirmam especialistas ouvidos pela Agência Brasil.

A defesa da democracia é fundamental para garantir uma sociedade justa e igualitária. É necessário que haja uma política reparatória às vítimas e uma responsabilização dos perpetradores dos crimes cometidos durante a ditadura. A memória de Zé Carlos e de tantas outras vítimas precisa ser preservada para que os horrores vividos durante esse período jamais se repitam.

A trajetória de Zé Carlos foi registrada em um livro do jornalista Samarone Lima, que serviu como base para o filme “Zé”, dirigido por Rafael Conde. O filme retrata os últimos anos de vida do militante e será exibido no Cine Santa Tereza, em Belo Horizonte, como parte da Semana Zé, organizada para lembrar os 50 anos da morte do jovem estudante. A exibição do filme serve como mais uma maneira de manter viva a memória desses tempos sombrios e reforçar a importância da luta pela democracia e pelos direitos humanos no país.

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