Consumo de medicamentos relacionados à saúde mental fornecidos pelo SUS aumenta em Minas Gerais durante a pandemia COVID-19.

Uma recente pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Minas trouxe à tona uma tendência preocupante: o aumento no consumo de medicamentos relacionados à saúde mental fornecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Minas Gerais durante a pandemia de covid-19. O estudo, que analisou dados do Sistema Integrado de Gestão da Assistência Farmacêutica, buscou traçar o perfil do fornecimento de psicofármacos e verificar as tendências de uso antes e durante a pandemia.

Os resultados da pesquisa revelaram que o cloridrato de fluoxetina, indicado para o tratamento de depressão, o diazepam, prescrito para ansiedade, e o fenobarbital sódico, para epilepsia, foram os medicamentos mais consumidos durante a pandemia. Comparando os dois períodos, antes e depois da pandemia, os medicamentos que tiveram maior aumento percentual de consumo foram clonazepan, para ansiedade, com um aumento de 75,37%, e carbonato de lítio, utilizado no tratamento do transtorno de bipolaridade, com um aumento de 35,35%.

Além disso, entre os itens do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica, os medicamentos mais consumidos foram olanzapina, risperidona e hemifumarato de quetiapina, todos indicados para o tratamento de esquizofrenia. Os que tiveram maior aumento percentual de consumo, comparando os dois períodos, foram levetiracetam, para epilepsia, com um aumento de 3.000%, e cloridrato de memantina, indicado para Alzheimer, cujo consumo subiu 340%.

A farmacêutica Sarah Nascimento Silva, que integra o Núcleo de Avaliação de Tecnologias em Saúde da Fiocruz e coordenou o estudo, apontou que o crescimento no consumo de antidepressivos e ansiolíticos pode estar associado ao contexto de incertezas e preocupações gerado pela pandemia. Além disso, ela destacou que as medidas importantes que afetaram as políticas públicas de saúde mental, como a alteração da legislação que regula a dispensação de medicamentos psicotrópicos, e a ampliação da transferência de recursos financeiros aos municípios, também podem ter influenciado nesse aumento.

Sarah Nascimento Silva ressaltou que, embora essas alterações tenham ampliado e facilitado o acesso aos medicamentos, a Rede de Atenção Psicossocial já vinha sofrendo mudanças que impactaram negativamente na assistência prestada aos usuários. Durante a pandemia, o isolamento social afetou a rotina de serviços dos centros de Atenção Psicossocial (CAPs), impactando ainda mais na assistência adequada.

Em meio a esse cenário, a coordenadora do estudo chama a atenção para o risco de que tais mudanças, ainda que transitórias, possam alterar comportamentos que vão exigir um trabalho contínuo da Assistência Farmacêutica com foco no uso racional dos medicamentos. Além disso, ela destaca que o acesso recente ao levetiracetam, medicamento incorporado à lista de produtos ofertados pelo SUS em 2017, pode ter influenciado no grande aumento do seu consumo.

Portanto, diante dos resultados preocupantes dessa pesquisa, é fundamental que medidas sejam tomadas para garantir a assistência adequada aos indivíduos que necessitam de tratamentos relacionados à saúde mental, além de promover um uso racional e responsável dos medicamentos. A atenção às políticas públicas e à rede de atenção à saúde mental torna-se ainda mais crucial em um momento de pandemia e incertezas.

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