O estudo, coordenado pelo geógrafo Luiz Jardim Wanderley, professor da UFF, resultou no Relatório de Conflitos da Mineração no Brasil, lançado no mês passado. A publicação foi fruto de uma parceria entre a UFF e o Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração, que engloba diversas organizações da sociedade civil.
Na quinta-feira (25), a tragédia completou exatos cinco anos. Os atingidos convocaram uma série de atos ao longo da semana para homenagear as vítimas e exigir reparação justa e punição dos responsáveis. As famílias das vítimas contabilizam 272 mortes, incluindo duas mulheres grávidas.
Luiz Jardim Wanderley explicou que Brumadinho tem sido o epicentro dos conflitos no Brasil desde 2020, com dezenas de mobilizações em busca de reparação e mais de duas dezenas de comunidades em conflito com a Vale e outras mineradoras que operam no município. A maioria dos conflitos envolve reivindicações pela reparação e os efeitos do desastre sobre a terra e a água.
De acordo com os pesquisadores da UFF, em comparação com 2021, houve um aumento de 22,9% no total de localidades com conflitos envolvendo a mineração em 2022. O relatório inclui 792 localidades e 932 ocorrências de conflito, envolvendo mais de 688 mil pessoas. Mais de 90% dos conflitos envolveram disputas por terra ou água, e os minérios mais presentes foram minério de ferro (40,1%) e ouro (26,3%).
A Vale lidera a lista de empresas relacionadas com os conflitos, com 115 ocorrências, representando 24% do total. Adicionalmente, o garimpo ilegal foi relacionado a 270 conflitos, com os indígenas sendo o grupo social mais afetado em 31,9% dessas ocorrências.
O relatório também documenta os danos causados pelos conflitos, que vão desde a perda de vidas e remoções forçadas até ameaças e pressões sobre as comunidades afetadas. Luiz Jardim Wanderley observa que a mineração tem sido uma atividade associada a grandes violações de direitos humanos e ambientais, afetando especialmente os mais pobres, indígenas e negros.
Ele destaca que os dados revelam como opera o racismo ambiental, e observa que as disputas territoriais se manifestam por meio da expulsão de pessoas, invasões e inviabilização do uso da terra. Além disso, há conflitos relacionados aos impactos sobre os recursos hídricos, incluindo a contaminação das águas e condições degradantes de trabalho.