Brumadinho (MG) é epicentro de conflitos com mineração no Brasil: estudo lista 30 ocorrências após tragédia da Vale.

Brumadinho (MG) lidera o ranking de cidades do país com o maior número de conflitos envolvendo a mineração. Um estudo realizado pela Universidade Federal Fluminense (UFF) identificou 30 ocorrências, a maioria relacionada à tragédia que ocorreu há cinco anos. O rompimento de uma barragem da mineradora Vale em 25 de janeiro de 2019 resultou em 270 mortes, devastação ambiental e impactos nas comunidades da região.

O estudo, coordenado pelo geógrafo Luiz Jardim Wanderley, professor da UFF, resultou no Relatório de Conflitos da Mineração no Brasil, lançado no mês passado. A publicação foi fruto de uma parceria entre a UFF e o Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração, que engloba diversas organizações da sociedade civil.

Na quinta-feira (25), a tragédia completou exatos cinco anos. Os atingidos convocaram uma série de atos ao longo da semana para homenagear as vítimas e exigir reparação justa e punição dos responsáveis. As famílias das vítimas contabilizam 272 mortes, incluindo duas mulheres grávidas.

Luiz Jardim Wanderley explicou que Brumadinho tem sido o epicentro dos conflitos no Brasil desde 2020, com dezenas de mobilizações em busca de reparação e mais de duas dezenas de comunidades em conflito com a Vale e outras mineradoras que operam no município. A maioria dos conflitos envolve reivindicações pela reparação e os efeitos do desastre sobre a terra e a água.

De acordo com os pesquisadores da UFF, em comparação com 2021, houve um aumento de 22,9% no total de localidades com conflitos envolvendo a mineração em 2022. O relatório inclui 792 localidades e 932 ocorrências de conflito, envolvendo mais de 688 mil pessoas. Mais de 90% dos conflitos envolveram disputas por terra ou água, e os minérios mais presentes foram minério de ferro (40,1%) e ouro (26,3%).

A Vale lidera a lista de empresas relacionadas com os conflitos, com 115 ocorrências, representando 24% do total. Adicionalmente, o garimpo ilegal foi relacionado a 270 conflitos, com os indígenas sendo o grupo social mais afetado em 31,9% dessas ocorrências.

O relatório também documenta os danos causados pelos conflitos, que vão desde a perda de vidas e remoções forçadas até ameaças e pressões sobre as comunidades afetadas. Luiz Jardim Wanderley observa que a mineração tem sido uma atividade associada a grandes violações de direitos humanos e ambientais, afetando especialmente os mais pobres, indígenas e negros.

Ele destaca que os dados revelam como opera o racismo ambiental, e observa que as disputas territoriais se manifestam por meio da expulsão de pessoas, invasões e inviabilização do uso da terra. Além disso, há conflitos relacionados aos impactos sobre os recursos hídricos, incluindo a contaminação das águas e condições degradantes de trabalho.

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