Comissão da Verdade da OAB de Cubatão pede inclusão das vítimas do incêndio da Vila Socó como desaparecidos políticos da ditadura

A Comissão da Verdade da OAB de Cubatão (SP) anunciou que irá solicitar que os nomes das vítimas do incêndio na Vila Socó sejam incluídos na lista de mortos e desaparecidos políticos da ditadura militar. O pedido será formalizado junto à Comissão Interamericana de Direitos Humanos. A decisão foi tomada durante um Ato Ecumênico realizado no memorial às vítimas do trágico incêndio, ocorrido há 40 anos.

Na madrugada de 25 de fevereiro de 1984, um incêndio devastador resultante de um vazamento de gasolina de um duto da Petrobrás consumiu a favela onde viviam aproximadamente 6 mil pessoas. Moradores relataram que o odor de gasolina foi detectado horas antes do início do fogo, que se propagou rapidamente pela comunidade, composta por barracos improvisados em palafitas.

O advogado e ativista Dojival Vieira dos Santos, membro da Comissão da OAB de Cubatão, ressaltou que a tragédia na Vila Socó é um reflexo do modelo econômico adotado durante a ditadura militar. Ele destacou que a cidade era considerada uma Área de Segurança Nacional, gerida por um prefeito indicado pelo governo federal, no contexto do final do governo militar. Dojival também mencionou a suposta “Operação Abafa”, que teria minimizado o número de mortos e impedido investigações para proteger interesses econômicos, como os da Petrobrás.

Entre as poucas pessoas que receberam indenizações pelo incêndio está Neigila Aparecida Soares da Silva, que perdeu familiares na tragédia. Neigila relatou que, apesar da compensação financeira recebida na época, não obteve apoio do governo para obter uma pensão vitalícia.

O Ato em homenagem às vítimas foi organizado pela OAB de Cubatão e pela Associação de Moradores da Vila São José. A falta de apoio da prefeitura à cerimônia foi justificada pelo Secretário de Governo municipal, que afirmou que a decisão foi deixar a responsabilidade para a sociedade civil.

A Petrobrás não participou do evento e não se pronunciou sobre a responsabilidade da empresa na tragédia. O memorial dedicado às vítimas, situado em um terreno entre rodovia e ferrovia, teve sua placa de identificação vandalizada e a prefeitura cogita transferi-lo para um local mais visível.

A busca pela inclusão dos nomes das vítimas do incêndio da Vila Socó na lista de mortos e desaparecidos políticos da ditadura militar continua como um ato de justiça e memória para as famílias afetadas pelo trágico evento.

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