Relatório da USP mostra aumento da hostilidade contra muçulmanos no Brasil após ataque de grupo Hamas a Israel

No último dia 7 de outubro, um ataque orquestrado contra Israel pelo grupo Hamas deixou centenas de mortos, causando apreensão na comunidade muçulmana pelo receio de que a culpa pelas vítimas recaísse sobre ela e que a hostilidade aumentasse. Esse temor se confirmou na prática, conforme revela a segunda edição do Relatório de Islamofobia no Brasil, elaborado pelo Grupo de Antropologia em Contextos Islâmicos e Árabes (Gracias), da Universidade de São Paulo (USP).

O objetivo desse levantamento foi avaliar se os seguidores do islamismo perceberam um aumento no nível de intolerância como resultado do ataque de outubro. O questionário, divulgado nas redes sociais e respondido por 310 pessoas entre os dias 10 e 18 de novembro, revelou que 36,8% dos homens que participaram da pesquisa já identificavam uma grande intolerância antes da arremetida do Hamas. Outros 47,2% disseram que havia pouca intolerância, demonstrando que 84% dos homens muçulmanos já percebiam atitudes de intolerância, enquanto apenas 16% negaram a existência de manifestações desse tipo.

No caso das mulheres, 45,1% apontaram que já havia muita intolerância antes do ataque de outubro, enquanto 49,5% apontaram pouca intolerância, totalizando 94,6% das mulheres que já percebiam a intolerância em algum nível. Após o ataque, 69,2% das mulheres relataram um aumento da intolerância contra muçulmanos, mostrando que a visão mais crítica das mulheres sobre os casos de intolerância é evidente.

A pesquisa também avaliou o papel da imprensa na disseminação da islamofobia, revelando que quase todas as mulheres (92,3%) e 88% dos homens entendem que a cobertura jornalística do ataque de 7 de outubro colaborou muito para a intolerância contra as pessoas muçulmanas. Além disso, verificou-se que a maioria dos entrevistados concluiu que as redes sociais passaram a multiplicar mais postagens que retratam os muçulmanos de forma negativa após a data.

Francirosy Campos Barbosa, coordenadora do Gracias e responsável pelo trabalho de pesquisa, afirmou que a comunidade islâmica ainda não está coletivamente instrumentalizada para enfrentar agressões nas redes sociais e que cada um acaba se defendendo individualmente. Ela relatou ter sido alvo de violência no período que antecedeu o ataque de outubro e após o evento, recebendo até ameaças de morte por defender a Palestina.

A pesquisadora também destacou que muitos muçulmanos adotaram estratégias para se proteger, mudando até a escolha de vestimentas. O Gracias apurou que pelo menos 26,4% das entrevistadas alteraram algo em suas roupas, contra 17% dos homens. Francirosy defendeu que as mulheres são “a ponta mais frágil” nesse contexto e, por isso, as principais vítimas das agressões.

Além disso, a pesquisa constatou que a confusão entre a caracterização de muçulmanos, árabes e palestinos é frequente, dada a percepção errônea de que os muçulmanos são predominantemente árabes. No entanto, a maioria é de origem asiática e africana. Os dados mostram que 85,6% dos homens entrevistados acreditam que as pessoas de modo geral não sabem fazer essa diferenciação corretamente, ante 88,5% das mulheres.

Os resultados da pesquisa indicam um aumento significativo da intolerância contra os muçulmanos após o ataque de outubro, bem como um papel preponderante da mídia na disseminação da islamofobia. A necessidade de maior conscientização e combate às atitudes intolerantes se mostra evidente diante do contexto de violência e hostilidade enfrentado pela comunidade islâmica após esse evento.

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