Baterista e fã de grandes nomes como Maria Bethânia e Jimi Hendrix, lamentavelmente chega ao fim. Triste notícia.

A música, literalmente, deu o tom à vida de Adauto Domingos. Baterista e percussionista dos bons, segundo companheiros de palco, praticamente nasceu sabendo manipular baquetas, caixas e bumbo.

Tininho, como era conhecido pelos amigos e fãs, foi o único dos cinco irmãos que puxou o pai, saxofonista e violonista amador em orquestras que se apresentavam em bailes de Jundiaí (a 58 km de São Paulo).

Sua primeira banda, a 600 ML, foi formada com colegas de escola quando ele ainda era adolescente.

“Ele nem tinha instrumento na época, mas de ouvido já saiu tocando”, conta Rodrigo Rondini, o guitarrista do grupo do colégio.

Tininho estudou bateria, a fama cresceu e passou a ser convidado a tocar com outros músicos —ultimamente, integrava a Clube dos Malditos, banda de blues.

O gosto sempre foi variado. Da MPB de Maria Bethânia à guitarra nervosa de Jimi Hendrix, que tinha tatuado no braço, do rock de Led Zeppelin ao soul de Marvin Gaye. Em meio à diversidade musical, chamavam sua atenção as letras de Arnaldo Antunes.

Também tocava em blocos de Carnaval de sua cidade. Mas música nunca foi seu ganha-pão. Técnico em telecomunicações, trabalhava no ramo desde a extinta Telesp.

“Tinha de sustentar família, por isso a música era hobbie”, diz a professora Gisele Ferreira da Costa Domingos, 47, apresentada por telefone a Tininho e com quem se casou há 15 anos.

Curioso, o baterista era graduado em história. Seu trabalho de conclusão de curso contou a trajetória de um clube de negros, apesar de numa ter sido ativista.

Ótimo cozinheiro, sempre testava novos sabores em seus pratos. Sua moqueca era tão famosa quanto as batidas de sua baqueta. “Ele gostava de potência no sabor, por isso não economizava no tempero de seus pratos”, diz a companheira.

Com intolerância a camarão, sempre evitava esse fruto do mar.

Trindade, vila à beira-mar de Paraty, era refúgio do casal desde os tempos de namoro.

Foi em busca de sol e praia que os dois, mais o filho Pedro Henrique, 14, embarcaram no mês passado para o Nordeste.

No último dia da viagem a João Pessoa (PB), a “garganta fechou” ao comer caranguejo, mesmo sem ter camarão no molho. Tininho correu para o apartamento de um sobrinho, onde a família estava hospedada, em busca de um medicamento, mas não deu tempo. O pai foi encontrado caído na sala pelo filho pouco depois.

Adauto Domingos morreu no último dia 26 de julho de choque anafilático, aos 52 anos. No seu velório, a turma do Clube dos Malditos brindou com garrafinhas de “suco de macaco”, bebida que mistura licor de cacau com conhaque, e cantou “Amigo”, de Roberto Carlos. Afinal, no repertório de bluseiro também há espaço para outras sonoridades.

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