Morte de usuário de crack em operação policial no Guarujá é confirmada por ouvidor.

O ouvidor das polícias de São Paulo, Cláudio Aparecido da Silva, informou ao chefe do Ministério Público suspeitas de mais uma morte de um inocente causada pela Polícia Militar durante a Operação Escudo, no litoral paulista. Segundo Cláudio Aparecido, um homem que não tinha relação com o tráfico de drogas da Baixada Santista foi morto a tiros de fuzil enquanto passava por Guarujá. O relato foi feito durante uma reunião com entidades de defesa dos direitos humanos e políticos, junto ao Procurador-Geral de Justiça do estado, Mário Sarrubbo, para discutir os casos de abuso policial na operação, que resultaram em pelo menos 16 mortes.

A vítima, identificada como Jefferson Junio Ramos Diogo, foi morta às 20h10 do dia 29 na favela da Prainha. De acordo com Silva, a família da vítima informou que ele era um usuário de crack que costumava perambular na rodoviária do Tietê, na zona norte de São Paulo. A família não sabia como ele chegou a Guarujá, mas o corpo foi reconhecido pela irmã no Instituto Médico Legal de Praia Grande.

Durante a reunião, Cláudio Aparecido ainda relatou que, segundo a família, o homem deixou São José dos Campos após sofrer agressões na rua, foi à capital em busca da ex-mulher e dos três filhos, e acabou perambulando entre Guarulhos e São Paulo. Segundo o boletim de ocorrência, quatro policiais militares afirmaram que estavam em uma patrulha a pé na favela quando avistaram três homens, sendo que dois estavam armados e um deles tinha uma mochila.

De acordo com os policiais, um dos homens teria apontado uma arma em direção a eles, e três PMs atiraram para se defender. Dois suspeitos conseguiram fugir, mas o terceiro, ferido e armado, correu para o outro lado. Os PMs afirmaram que, como ele ainda representava um risco, precisaram fazer mais disparos. No local, foram apreendidas duas pistolas e uma mochila com drogas.

O caso foi comunicado por volta das 23h, cerca de três horas após a morte. Mais tarde, um escrivão atualizou o boletim de ocorrência para informar que o relato dos policiais militares diferia dos depoimentos, já que não havia menção de disparos feitos pelo suspeito contra a equipe policial.

Diogo é uma das 16 vítimas registradas pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo durante a Operação Escudo. A Ouvidoria das Polícias chegou a receber denúncias sobre 19 mortes, mas algumas não foram confirmadas, e o órgão agora trabalha com o mesmo número divulgado pela secretaria.

Além do relato sobre a morte de Diogo, o ouvidor também chamou a atenção para o risco de adulteração das cenas de crime, uma vez que os boletins de ocorrência afirmam que os locais foram abandonados antes da chegada da perícia por “falta de segurança”. A Secretaria de Segurança Pública afirmou que todas as circunstâncias das mortes estão sendo investigadas e que as informações estão detalhadamente documentadas e sendo acompanhadas pelo Ministério Público e Poder Judiciário.

Segundo a secretaria, antes de registrar o boletim de ocorrência, são adotadas medidas de polícia judiciária em casos de morte. A pasta também informou que, além das mortes, foram apreendidas armas, drogas e outros objetos relacionados às ocorrências.

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