Pais de adolescentes enfrentam solidão e depressão, com impacto similar aos de seus filhos, porém suas necessidades são muitas vezes negligenciadas.

Ana, uma professora de ensino médio, está enfrentando dificuldades na convivência com seu filho adolescente de 14 anos. Ela observa que ele está excessivamente envolvido em jogos e tem dificuldade em se socializar, o que a incomoda profundamente. Diagnosticada com depressão anteriormente, Ana percebeu que sua própria saúde mental, assim como o relacionamento com seu filho, piorou desde que ele entrou na adolescência. Ela relata a frustração de não ter alguém com quem compartilhar suas angústias e se sente relegada a um papel secundário em sua vida.

As mudanças sociais e hormonais típicas da adolescência, combinadas com o isolamento imposto pela pandemia de Covid-19 e o impacto das redes sociais, têm levantado discussões sobre depressão e ansiedade em adolescentes nos últimos anos. No entanto, é importante destacar que também há problemas de saúde mental que afetam os pais desses jovens e como a saúde mental de ambas as faixas etárias está interconectada.

Recentes pesquisas feitas pela Universidade Harvard nos Estados Unidos identificaram que pais e adolescentes sofrem com índices semelhantes de problemas de saúde mental. Tanto os adolescentes quanto os pais relataram ansiedade e depressão em percentuais significativos. Este dado alarmante ressalta a importância de reconhecer a saúde mental dos pais, não apenas dos adolescentes.

Segundo Richard Weissbourd, diretor do projeto Making Caring Common de Harvard, a depressão pode começar tanto nos pais quanto nos adolescentes, e ambos os casos podem afetar negativamente um ao outro. Em um contexto em que os limites são constantemente desafiados, pais e adolescentes podem se sentir desconectados e preocupados um com o outro.

No Brasil, também é evidente o impacto da saúde mental nessa faixa etária. Jovens entre 16 e 24 anos estão entre os mais afetados por problemas como baixa autoestima, desinteresse pelas atividades cotidianas e conflitos familiares. A situação é ainda mais delicada devido à sensação de solidão e à violência urbana, além da vulnerabilidade socioeconômica na população em geral.

Seja nos Estados Unidos ou no Brasil, é fundamental que pais e filhos se apoiem mutuamente para quebrar o ciclo prejudicial à saúde mental. A comunicação é o primeiro passo para essa mudança. Os pais devem estar dispostos a ouvir os adolescentes e os próprios jovens desejam serem ouvidos. É preciso lembrar que os desafios enfrentados hoje pelos pais são semelhantes aos de gerações anteriores, porém amplificados pelo uso excessivo de tecnologia.

Embora seja um momento desafiador para pais e filhos, é possível encontrar soluções e apoio. É importante que os pais sejam incluídos nas conversas sobre saúde mental dos adolescentes e que as políticas públicas considerem a saúde emocional de toda a família. Afinal, como o estudo de Harvard destaca, “um relato amplamente ignorado é o das pessoas centrais na vida dos adolescentes: seus pais e cuidadores”.

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