Para pesquisadora, o funk no Brasil é mais que música, é uma forma de resistência. (Estadão Expresso)

O funk brasileiro é muito mais do que apenas um estilo musical, mas sim um movimento de resistência. Assim como outros gêneros afrodiaspóricos, como o hip hop, o blues e o soul, o funk tem suas raízes na cultura africana, cujos povos foram vítimas de migração forçada durante o processo de colonização do continente.

No livro “Cai de boca no meu b#c3t@o: o funk como potência do empoderamento feminino”, a autora Tamiris Coutinho explora as origens do funk e sua relação com o miami bass, uma vertente do hip hop, bem como com o soul e a música negra dos Estados Unidos. Porém, desde sua origem, o funk foi alvo de criminalização e marginalização.

Durante o período da ditadura militar no final da década de 1970, houve uma forte mobilização do povo negro por meio da música, especialmente do soul. Isso se tornou um movimento de resistência, que incomodou a branquitude dominante. A mídia desempenhou um papel importante na marginalização do movimento, associando-o a episódios de violência e criminalidade.

Apesar da perseguição e do preconceito, o funk viveu uma era de ouro na década de 2000 no Rio de Janeiro, quando as festas ganharam popularidade e começaram a se espalhar para além das favelas. No entanto, a mídia continuava a estigmatizar o gênero, associando-o a comportamentos considerados inadequados.

A participação das mulheres no funk também ganhou destaque nessa época, com dançarinas, MCs e integrantes dos “bondes” se tornando cada vez mais presentes na cena. No entanto, a criação das Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs) a partir de 2008 trouxe repressão e morte para as populações das favelas cariocas, afetando diretamente os eventos culturais dentro dessas comunidades.

Tamiris Coutinho divide as funkeiras em diferentes gerações, desde as pioneiras dos anos 1990 até as artistas da nova geração que surgiram a partir de 2019. Cada geração trouxe suas próprias influências e temáticas, mas todas elas contribuíram para dar visibilidade e empoderamento feminino no movimento.

O funk pode ser considerado uma potência de empoderamento feminino, uma vez que traz consciência crítica, cultural, social e financeira. A música se torna um canal de expressão e resistência, permitindo que as mulheres rompam com opressões e fortaleçam o grupo em que estão inseridas.

Embora o funk ainda seja alvo de preconceito e criminalização, ele continua a se fortalecer como movimento de resistência e empoderamento. Enquanto houver pessoas valorizando e produzindo o gênero musical, haverá também aqueles que tentam deslegitimá-lo. No entanto, o funk persiste e continua a movimentar a roda do empoderamento.

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